segunda-feira, 30 de setembro de 2013
O que é educar e ensinar para Paulo Freire
O que é educar e ensinar para Paulo
Freire
Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.
Reflexão para os professores e alunos
Resenha: Critica de Paulo Freire
A obra educacional de Paulo Freire não se destaca pelo
tamanho físico de seus escritos, mas sim pelo contexto e pela densidade de cada
obra sua. No livro Pedagogia da Autonomia não é diferente, que apesar de poucas
páginas, possui uma estrutura e contexto teórico amplo e totalmente interligado
com as outras obras do autor em sua concepção de educação libertária.
A primeira parte dessa obra tem o titulo de Não há
docência sem discência o autor disserta no inicio sobre a curiosidade
epistemológica que educador deve despertar em seu educando com finalidade de
formar um pensamento critico, pois o processo de educação é objeto de constante
transformação, pois para Freire, assim como Mannheim, o processo educativo e
realizado em várias instituições sociais além da própria escola em um processo
dialético entre vários saberes entre chamados populares (do povo) e dos
eruditos (da escola).
Nesse capitulo, Freire disserta que educar exige rigorosidade
metódica. Isso não significa rigor no sentido de uma educação autoritária como
proposta por Durkheim, mas sim possuir um método didático que possua uma práxis
pedagógica, o educador deve possuir uma prática pedagógica que instigue o
educando a idéia critica em processo dialético entre o concreto e abstrato.
Isso significa que a rigorosidade de método tem a finalidade de criar uma
mentalidade critica no aluno.
Para Freire ensinar necessita pesquisa, isso institui o
professor como reprodutor do conhecimento, mas sim em pesquisador com
finalidade de criar em seus alunos um processo de educação continua além da
escola e dentro da escola.
O autor também defende que o professor deve respeitar o
saberes do educando, não desvalorizando saberes culturais ditos populares ou
saberes da prática da labuta, pois para Freire, todo prática exige conhecimento
prévio, poder imaginativo anterior, ser pensado antes de praticado, onde todo
ato do aluno é carregado de pura práxis no sentido marxista. Isso significa que
o professor deve respeitar os saberes do aluno, pois pode aprender algo novo
que não sabe, pois o conhecimento do aluno faz da realidade e da cultura do
aluno.
A prática educativa exige criticidade do professor em
relação ao mundo ao ato de educar. Isso claro carregado de estética, onde essa
deve ser a superação do positivismo do ensino bancário, em uma boniteza
carregada de ética que institua mentalidade reflexiva no aluno.
Segundo Freire, ensinar exige do professor corporeificação
das palavras pelo exemplo, isto é, dar concretude as palavras que são puramente
objetos abstratos, facilitando assim processo didático. O processo de leitura
do texto deve ser baseado em exemplo prático e concreto do dia a dia do
educando.
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a
qualquer forma de discriminação, onde o educador não deve reproduzir a
discriminação, diferenciação e nem exclusão que a sociedade capitalista impõe.
Por isso, o professor não deve ter atitudes discriminatórias, tanto explicitas
como veladas, e deve rejeitar qualquer uma dessas atitudes no ambiente
educacional como também criar em seu aluno uma mentalidade livre dessa
discriminação.
Ensinar exige uma reflexão critica da prática de educar do
professor e do aluno, onde o processo educacional é continuo e deve se adaptar
de acordo com realidade que rodeia a relação professor aluno.
Ensinar exige o reconhecimento e assunção à identidade
cultural, pois o processo de reconhecimento é um processo de reconhecer a
particularidade cultural do educando, e colocar em prática pedagógica em que
redistribua o conhecimento sem deixar de reconhecer a identidade cultural do
aluno e respeitá-la.
Na segunda parte da obra, Freire critica a instrumentação
do ensino tradicional, na qual ele chama de bancário. Para o autor, ensinar
exige consciência de inacabamento, uma concepção de que educar exige do
professor uma flexibilidade pela questão que conhecimento é objeto em constante
transformação.
O educador deve reconhecer que é um ser condicionado às
condições materiais que oprimem sua humanidade e do seu aluno, pois reconhecer
as condições materiais desfavoráveis é a primeira instância para criação de
mentalidade criticada do mundo, uma leitura mais concreta do mundo, fazendo o
aluno pensar certo. Todavia isso não significa ensinar uma forma lógica e
instrumental do mundo, o ensino bancária, pois ato de ensinar é respeitar a
autonomia do aluno e despertar mais autonomia do mesmo a partir do ato de
ensinar. Isso exige um bom senso do professor, no ato de ensinar, tratando o
aluno como ser autônomo e pensante.
Todo educador deve ser humilde, tolerante e lutar pelos
seus direitos. Todavia isso significa que os educadores devem ter posição
política definida, pois não pode o educador fingir não perceber realidade do
mundo; pois ensinar exige apreensão da realidade, pois o ato de educar não
dever ser um ato ingênuo e alienante, mas um de superação da ingenuidade e
alienação do educando.
Todavia o professor deve ensinar com alegria e esperança,
onde o professor deve ter a convicção de que mudança é possível. Essa mudança é
superação do modelo educacional e social vigente.
Ensinar exige curiosidade do professor, pois esse deve ser
um pesquisador no qual aprende e ensina com aluno, pois a relação entre o
concreto e abstrato, é uma relação de leitura reflexiva do mundo em nossa
volta.
Na terceira e última parte desse livro Freire disserta que
ensinar é uma especificidade humana, teoria essa que Durkheim e Mannheim também
instituíram em seus escritos. Mas na teoria de Freire, a uma racionalidade
nessa especificidade humana.
Todavia ensinar exige segurança no ato didático de uma
forma reflexiva e com humildade. Ensinar também do professor competência
profissional, pois o professor tem a missão de ensinar o aluno a pensar certo
de uma forma competente. Além de ser competente o professor deve ser também
generoso, não devendo nada de conhecimento ao aluno e nem se negar a ensinar
nada ao aluno.
Para Freire o professor deve ensinar com comprometimento.
Isso significa que o ato de ensinar deve ser um compromisso social de superação
e transformação do sujeito em ser autônomo e reflexivo. Todavia a educação é
forma de intervenção do mundo, e maneira de como nos comprometemos com ela
certamente irá refletir no futuro e na construção da sociedade. Por isso, deve
se ensinar com liberdade, sem perder a autoridade, onde isto somente se cria
reconhecendo e respeitando a “autonomia do ser” no aluno.
Segundo Paulo Freire ensinar exige tomada consciente de
decisões, pois toda decisão tomada irá influenciar na leitura da vida do aluno.
Tomar decisões significa saber escutar, pois o professor deve respeitar e
escutar a posição do educando, e não decidir e nem proceder na aprendizagem uma
forma autoritária de ensino.
Todavia ensinar é reconhecer que toda educação é
ideológica. O ensino bancário tradicional reproduz a ideologia capitalista
burguesa. O ensino libertário proposto por Paulo Freire é construção de uma
nova ideologia que rompe com hegemonia vigente do capital. Isto significa que
educação é ideologia, por mais imparcial que essa possa parecer.
O professor deve estar disponível ao diálogo, não somente
ao diálogo com aluno, mas sim ao diálogo com a comunidade e a realidade a sua
volta. Pois o ato de educar exige estar aberto a novos horizontes.
Finalizando, Paulo Freire diz que educar é ato de querer
bem os educandos, isto é, educar é um ato de amor. O professor não deve somente
amar os alunos, mas sim libertá-los da inocência no qual vivem respeitando seus
conhecimentos, construindo um pensamento reflexivo perante o mundo ao seu
redor.
Vemos que teoria de Paulo Freire ainda não foi superada em
sua totalidade, pois seu método ainda não foi aplicado em todo seu conteúdo.
Assim como Mannheim, Paulo Freire não teve a oportunidade de aplicar durantes
anos o seu método. Apesar de seu método ter sido aplicado na alfabetização de
adultos em certa época no Brasil e São Tomé e Princípe, com processo gerador de
conhecimentos, mas se percebe que o método Paulo Freire pode ser aplicado em
todos os níveis de educação, desde básica ao nível superior por toda sua
amplitude teórica.
Paulo Freire propõe construir um novo ethos pedagógico
no sentido weberiano, um novo espírito para ensinar e educar os alunos
com finalidade de construir uma ideologia critica que desconstruía a antiga
ideologia burguesa. Assim como os atores anteriores a Freire como Bakhunin e
Mannheim, ou posteriores como Mészaros, o autor acredita na educação como forma
de superação do capitalismo. Pedro Demo critica, de certa forma, que esse tipo
de educação possa ser como a única forma de superação da sociedade capitalista,
pois a educação dita popular corre risco de se tornar uma forma de dominação
como a educação convencional nos processos de politicas populistas de educação,
o que significa que devemos é proteger esse método de educação com finalidade
de manter sua pureza estética.
Percebemos, que como a teoria marxista, a teoria
educacional freiriana foi corrompida várias vezes com a finalidade de manter o
status quo capitalista ou como forma mais refinada da dominação burguesa na
sociedade. Assim, a proposta educacional dita popular (mas na verdade
populista) se torna uma abstração de si mesma.
Todavia devemos respeitar Paulo Freire, por propor um
método educacional altamente social, colaborando também com a sociologia da
educação com sua proposta de educação popular e libertária; proposta essa que
nunca foi colocada em prática em sua totalidade ou foi colocada uma abstração
de seu método, pois isso seria perigoso para dominação capitalista e sua
hegemonia ideológica.
Bibliografia:
Principal:
FREIRE, Paulo. Pedagogia
da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa.SP: Paz e Terra,
2009.
domingo, 29 de setembro de 2013
sábado, 28 de setembro de 2013
As exigências do Ensinar, segundo Paulo Freire
Ensinar exige:
- Rigorosidade metódica
- Pesquisa
- Respeito ao saberes dos educandos
- criticidade
- Estética e ética
- Corporeificação das Palavras pelo exemplo
- Risco, Aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação
- Reflexão crítica sobre a prática
- O reconhecimento e a assunção da identidade cultural
- Consciência do Inacabamento
- O reconhecimento de ser condicionado
- Respeito à autonomia do ser do educando
- Bom senso
- Humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores
- Apreensão da realidade
- Alegria e esperança
- A convicção de que a mudança é possível
- Curiosidade
- Segurança, competência profissional e generosidade
- Comprometimento
- Compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo
- Liberdade e autoridade
- Tomada consciente de decisões
- Saber escutar
- Reconhecer que a educação é ideológica
- Disponibilidade para o Diálogo
Extraído da Obra Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática Educativa - Ed. Paz e Terra , 2ª Ed., 1997.
Crítica à Pedagogia do Oprimido
A pedagogia do opressor.
Escrito por Sol Stern
Como o mais famoso Teach for
America (Ensine pela América), o programa do New York Teaching Fellows (Pessoas
da Educação de Nova Iorque) oferece uma rota alternativa para a certificação
estadual de cerca de 1700 novos professores anualmente. Quando me encontrei com
um grupo de colegas participando das aulas obrigatórias na faculdade de
Educação no verão passado, nós começamos a discutir a reforma educacional, mas
a conversa logo mudou de foco, com muitos contando uma história de terror
depois da outra sobre o seu difícil primeiro ano: salas de aulas caóticas,
diretores indiferentes, professores veteranos que raramente ofereciam qualquer
tipo de ajuda. Você poderia esperar que as leituras obrigatórias para esses
iniciantes esforçados contivessem dicas práticas sobre administração da sala de
aula, digamos, ou conselhos sensatos sobre como ensinar estudantes em
desvantagem a ler. Em vez disso, um livro que meus colegas tiveram que ler na
sua totalidade foi “Pedagogy of the Oppressed” (A pedagogia do oprimido), pelo
educador brasileiro Paulo Freire.
Para qualquer pessoa
familiarizada com as faculdades de Educação americanas, a escolha não era
surpreendente. Desde a publicação da edição americana em 1970, Pedagogy of the
Oppressed alcançou status praticamente icônico nos programas de treinamento de
professores nos Estados Unidos. Em 2003, David Steiner e Susan Rozen publicaram
um estudo examinando o currículo de 16 faculdades de educação – 14 delas entre
as melhores do país, de acordo com o U.S. News and World Report – e concluíram
que Pedagogy of the Opressed era um dos textos mais frequentemente indicados na
disciplina de filosofia da educação. Esses trabalhos disciplinares são,
indubitavelmente, parte da razão que, de acordo com o editor, quase 1 milhão de
cópias foram vendidas, um número considerável para um livro no campo da
educação.
O estranho é que a obra-prima de
Freire não trata, no fim das contas, sobre educação – certamente não a educação
de crianças. Pedagogy of the Oppressed não menciona nenhuma das questões que
inquietaram os reformadores da educação do começo ao fim do século XX: provas,
padrões, currículo, a função dos pais, como organizar escolas, que assuntos
deveriam ser ensinadas em cada série, como melhor treinar professores, a
maneira mais eficaz de ensinar estudantes menos favorecidos. Esse best-seller
é, em vez disso, um tratado político utópico para acabar com a hegemonia
capitalista e criar sociedades sem classes. Os professores que adotam essas
ideias perniciosas arriscam prejudicar seus alunos – e ironicamente, os seus
alunos menos favorecidos é que irão sofrer mais.
Para ter uma ideia sobre as
prioridades do livro, veja as suas notas de rodapé. Freire não está interessado
na tradição ocidental dos principais pensadores da educação – nem Rousseau, nem
Piaget, nem John Dewey, nem Horace Mann, tampouco Maria Montessori. Ele cita,
em vez disso, um diferente grupo de pensadores: Marx, Lenin, Che Guevara e
Fidel Castro, assim como intelectuais radicais como Frantz Fanon, Régis Debray,
Herbert Marcuse, Jean-Paul Sartre, Louis Althusser e Georg Lukács. E não é
surpresa, dado que a ideia principal de Freire é que a contradição central em
toda a sociedade está entre os “opressores” e os “oprimidos” e que a revolução
deveria resolver o seu conflito. Os oprimidos são, além disso, destinados a
desenvolver uma “pedagogia” que os leva a sua própria liberação. Aqui, em uma passagem-chave, é como Freire
explica o processo emancipatório:
A pedagogia dos oprimidos (é) uma
pedagogia a qual deve ser forjada pelos, não para, os oprimidos (indivíduos ou
populações) no esforço incessante de recuperar sua humanidade. Essa pedagogia
torna a opressão e suas causas objeto de reflexão pelos oprimidos, e dessa
reflexão surgirá seu necessário envolvimento no esforço para sua liberação. E,
nesse interim, essa pedagogia será feita e refeita.
Como essa passagem deixa claro,
Freire nunca pretende que “pedagogia” se refira a qualquer método de instrução
de sala de aula baseado em análise e pesquisa, ou a quaisquer meios de produzir
maior produção acadêmica aos estudantes. Existem questões mais importantes para
ele. Sua teoria idiossincrática de ensino refere somente à crescente
conscientização dos trabalhadores explorados e servos que estão “desmascarando
o mundo da opressão”. Uma vez que cheguem à compreensão, mirabile dictum, “essa
pedagogia não mais pertence aos oprimidos e se torna uma pedagogia de todas as
pessoas no processo de liberação permanente”
Raramente Freire expõe sua
descrição da luta entre opressores e oprimidos em qualquer sociedade ou período
histórico particular, então é difícil para o leitor julgar se o que ele está
dizendo faz algum sentido. Nós não sabemos se os opressores que ele condena são
banqueiros americanos, latifundiários latino-americanos ou, até mesmo, não
perceptíveis autoritários burocratas do sistema educacional. A sua linguagem é
tão metafísica e vaga que ele poderia muito bem estar descrevendo um jogo de
tabuleiro com dois lados conflitantes, os opressores e os oprimidos. Quando
pensando de forma abrangente sobre o conflito geral entre esses dois lados, ele
confia na formulação padrão de Marx que “o conflito entre classes
necessariamente leva à ditatura do proletariado [e] ela somente constitui a
transição para a abolição de todas as
classes, isto é, uma sociedade sem classes”.
Em uma nota de rodapé, Freire
menciona uma sociedade que na verdade alcançou “a liberação permanente” que ele
almeja: essa “parece ser o aspecto fundamental da Revolução Cultural de Mao”.
Os milhões de chineses de todas as classes que sofreram e morreram sob a
opressão brutal da revolução poderiam ter discordado. Freire também oferece aconselhamento
profissional para líderes revolucionários, que “devem perseguir a revolução,
pela sua natureza criativa e liberalizante, como um ato de amor”. O exemplar de
Freire desse amor revolucionário em ação é ninguém menos do que o ícone da
rebelião armada de 1960, Che Guevara, que reconheceu que “o verdadeiro
revolucionário é guiado por fortes sentimentos de amor”. Freire prefere não
mencionar que Che foi um dos mais brutais apoiadores da Revolução Cubana,
responsável pela execução de centenas de oponentes políticos.
Depois de tudo isso, a
obscuridade pode ser o menor dos problemas do livro, mas é, sem dúvida,
interessante mencionar a meditação inicial do livro:
Enquanto o problema da
humanização tem sempre, de um ponto de vista axiológico, sido o problema
central da humanidade, ele agora se torna um aspecto de inescapável
preocupação. A preocupação com a humanização leva, em primeiro lugar, ao
reconhecimento da desumanização, não somente como uma possiblidade ontológica,
mas como uma realidade histórica. E pela a percepção individual da extensão da
desumanização, ele ou ela pode perguntar se a humanização é uma possibilidade
viável. Dentro da história, em contextos concretos e objetivos, ambas a
humanização e a desumanização são possibilidades para uma pessoa como um ser
incompleto consciente de sua incompletude.
Traduzindo grosseiramente:
“humanização” é bom e “desumanização” é mau. Oh, nos dias quando as
características revolucionárias iam direto ao ponto, assim como: “um espectro
está assombrando a Europa”.
Como esse livro derivativo e
amador sobre opressão, luta de classes, depredações do capitalismo e a
necessidade de revolução acabou sendo confundido com um tratado sobre educação
que pode ajudar a resolver os problemas das escolas americanas centrais no
século XXI? A resposta a essa questão começa em Pernambuco, um estado pobre do
Nordeste do Brasil. Nas décadas de 1950 e 1960, Freire foi um professor
universitário e um ativista radical na capital do Estado, Recife, onde ele
organizou um programa de alfabetização de adultos para camponeses analfabetos.
Dar-lhes cursos intensivos de alfabetização e civismo foi a forma mais
eficiente de mobilizá-los a eleger candidatos radicais, Freire percebeu. Sua
“pedagogia”, então, começou como uma campanha em busca de votos para obter
poder político.
Em 1964, um golpe militar assolou
o Brasil. Freire ficou algum tempo na cadeia e foi então exilado para o Chile,
onde – inspirado pelo seu trabalho com camponeses brasileiros – ele trabalhou
na Pedagogy of the Oppressed. Por isso a insistência do livro que o ensino
nunca é um processo neutro e que ele sempre tem um propósito político dinâmico.
E, daí também, um dos poucos verdadeiros argumentos pedagógicos do livro: a sua
oposição a cobrar dos estudantes qualquer verdadeiro conteúdo acadêmico, o qual
Freire despreza como “conhecimento oficial” que serve para racionalizar a
inequidade dentro da sociedade capitalista. Um das metáforas mais citadas de
Freire repudia a ‘instrução direcionada pelo professor’ como um “conceito
bancário”, no qual ‘o escopo da ação permitida aos estudantes só vai até o que
é recebido, preenchido e armazenado em depósitos. Freire propõe, em vez disso,
que os professores estabeleçam parcerias com seus co-iguais, os estudantes, em
um processo “dialógico” e de “resolução de problemas” até que as funções de
professor e estudante se fusionem em “professor-estudante” e
“estudante-professor”
Depois da publicação da edição em
inglês em 1970, Freire recebeu um convite para ser palestrante convidado na
Harvard Graduate School of Education, e no decorrer da década seguinte ele
encontrou plateias entusiastas nas universidades americanas. Pedagogy of the
Oppressed ressonou com educadores progressistas, já comprometidos em uma
abordagem com “foco na criança” em vez de “direcionado pelo professor” no que
diz respeito ao ensino em sala de aula. A rejeição de Freire ao ensino de
conteúdo do conhecimento parecia apoiar a teoria de ensino que era mais popular
nas escolas de educação, a qual argumentava que os estudantes deveriam
trabalhar colaborativamente na construção de seu próprio conhecimento e que o
professor deveria ser “um guia ao lado”, não um “ator no palco”
Em Pedagogy of the Oppressed,
Freire listou 10 características-chave do sistema “bancário” de educação que
alegava mostrar como ele se opunha aos interesses de estudantes menos
favorecidos. Por exemplo, “o professor fala e os estudantes escutam –
timidamente”; “o professor escolhe e faz cumprir sua escolha, e os estudantes
obedecem”; “o professor disciplina e os estudantes são disciplinados”; e “o
professor escolha o conteúdo programático, e os estudantes (que não foram
consultados) se adaptam a ele”. As restrições de Freire reforçaram outro
acalentado mito da educação progressiva americana – que as lições “orientadas
pelo professor” deixam os estudantes passivos e desengajados, levando a maiores
taxas de abandono pelas minorias e os pobres. Essa descrição foi mais do que
uma caricatura; foi uma completa invenção. No decorrer das ultimas duas
décadas, as escolas E.D. Hirsch Core Knowledge provaram mais do que uma vez que
não somente o ensino rico em conteúdo aumenta o sucesso acadêmico de crianças
pobres em testes padrões mas que aqueles estudantes permanecem curiosos,
intelectualmente estimulados e engajados – embora as escolas de educação continuem
a ignorar esses sucessos documentados.
Obviamente, a popularidade de
Pedagogy of the Oppressed não é somente oriunda de sua teoria educacional.
Durante a década de 1970, veteranos dos protestos estudantis e movimento
anti-guerra baixaram suas placas e começaram a “longa marcha para dentro das
instituições”, obtendo Ph.Ds e entrando nos Departamentos de Ciências Sociais.
Uma vez na Universidade, os esquerdistas não poderiam resistir à tentação de
incorporar suas políticas radicais (seja Marxistas, feministas, ou
racionalistas) na sala de aula. Celebrando Freire como um pensador destacado
deu-lhes uma forma poderosa de fazê-lo. Sua declaração na Pedagogy of the
Oppressed de que não existia “tal coisa como educação neutra” tornou-se um
mantra para professores esquerdistas, que poderiam usar isto para justificar a
proselitização em favor de causas antiamericanas nas classes das faculdades.
Aqui e ali, alguns professores
esquerdistas reconheceram os perigos ao discurso acadêmico nessa obliteração do
ideal da neutralidade. No livro Radical Teacher, o conhecido crítico literário
Gerald Graff – ex-presidente da ultra politicamente correta Modern Language
Association – discutiu com seus colegas professores, argumentando que “ mesmo
que Freire insista na “problematização” em vez da educação “bancária”, o
objetivo do ensino para Freire é conduzir os estudantes em direção ao que
Freire chama de “uma percepção crítica do mundo’, e parece não haver
questionamento que, para Freire, somente o marxismo ou alguma versão de
radicalismo de esquerda conta como uma genuína “percepção crítica”. Em outros
trabalhos, Graff foi mais fundo na rejeição do modelo freiriano de ensino:
Qual o direito que temos de
sermos a autoconsciência política de nossos estudantes? Dada a diferença de
poder e experiência entre os estudantes e os professores (mesmo de professores
menos favorecidos), os estudantes tem medo justificável de desafiar nossas
visões políticas mesmo se implorarmos que o façam...Tornar o principal objetivo
do ensino “abrir a mente dos estudantes para ideais esquerdistas, feministas,
anti-racistas, homossexuais” e os estimular (bom eufemismo aqui) “a trabalhar
por mudança em busca da igualdade” tem sido o erro do movimento pedagógico liberatório de Freire
da década de 1960 até hoje.
Mas o conselho de Graff caiu em
ouvidos moucos nas universidades. E não somente a doutrinação em nome da
liberação infestou as faculdades americanas, onde estudantes poderiam, pelo
menos, escolher as matérias que queriam estudar; por meio de um grupo de
professores de educação radicais, a agenda freiriana chegou às classes K-12
(supletivos on-line) também, na forma de um movimento crescente de “educação em
busca da justiça social.”
Como um caso em questão,
considere a carreira de Robert Peterson. Peterson começou na década de 1980
como um jovem professor de uma escola de 1º grau no subúrbio de Milwaukee. Ele
descreve como ele usou Pedagogy of the Oppressed, procurando alguma forma de
aplicar as lições do grande educador radical para seus alunos de 4ª e 5ª séries
bilíngues. Peterson percebeu que ele tinha que se distanciar do “método
bancário” de educação, no qual “o professor e os textos curriculares tem a
“resposta certa” e no qual se espera que os estudantes regurgitem
periodicamente”. Em vez disso, ele aplicou a abordagem freiriana, a qual
“confia na experiência do estudante...significando desafiar os estudantes a
refletir sobre a natureza social do conhecimento e do currículo”. Peterson
gostaria de convencê-lo que os seus alunos de quarta e quinta série tornaram-se
teoristas críticos, interrogando sobre a “natureza do conhecimento”, como
estudiosos júnior da Escola de Frankfurt.
O que verdadeiramente aconteceu
foi que Peterson usou a racional freiriana para se tornar “ a consciência
política auto-apontada” dos seus alunos.
Depois de uma lição sobre a intervenção americana na América Latina,
Peterson decidiu levar as crianças a um protesto contra a ajuda americana aos
Contras que opunham os sandinistas marxistas na Nicarágua. As crianças ficaram
depois da aula fazenso cartazes:
DEIXEM-OS ADMINISTRAR SEUS PAÍSES
AJUDE A AMÉRICA CENTRAL, NÃO OS
MATE
DÊ LIBERDADE AOS NICARAGUENSES
Peterson estava particularmente
orgulhoso por um aluno de quarta-série que descreveu o protesto na revista da
classe. “Em uma terça-feira chuvosa em abril alguns dos alunos de nossa classe
foram protestar contra os Contras”, o aluno escreveu. “As populações na América
Central são mais pobres e bombardeadas. Quando nós fomos protestar estava
chovendo e parecia que os Contras estavam nos bombardeando.”
Hoje em dia, Peterson é o editor
de Rethinking Schools (Repensando Escolas), a principal publicação nacional
para educadores de justiça social. Ele é também editor de um livro chamado
Rethinking Mathematics: Teaching Social Justice by the Numbers (Repensando a
Matemática: ensinando justiça social através dos números), o qual oferece
lições de matemática para doutrinação de crianças pequenas sobre os males do
racismo e imperialismo dos Estados Unidos. Em parte pelos esforços de Peterson,
o movimento pela justiça social na matemática, assim como em outras disciplinas
acadêmicas, veio para ficar (veja The Ed Schools’ Latest—and Worst—Humbug,” (As
Últimas e Piores Falácias das Faculdades de Educação) – Summer 2006).
Essa obra deixa sua marca em
praticamente todas as principais faculdades de Educação do país e possui o
apoio de alguns dos maiores nomes do ensino da matemática, incluindo diversos
presidentes recentes da American Education Research Association, que possui
25.000 membros, a organização que dá cobertura ao professorado educacional.
Suas dezenas de livros pseudocientíficos, revistas acadêmicas, e conferências
exaltam os supostos benefícios para as crianças em desvantagem do tipo de
ensino que Peterson uma vez infligiu sobre os alunos da quarta-série em
Milwaukee.
Para rebater as críticas que o
objetivo do movimento é doutrinação política, os educadores de justiça social
desenvolveram um aparato acadêmico planejado para retratar o ensino de justiça
social como só uma outra razoável abordagem apoiada por “pesquisas”. Por isso,
uma recente edição do Teachers College Record da Universidade de Colúmbia (que
se auto proclama como “a voz da pesquisa em educação”) levava o artigo principal, escrito pelo
professor de educação de matemática Eric Guttstein, da Universidade de
Illinois, reportando os resultados de “uma pesquisa qualitativa de dois anos
sobre o estudo da prática do ensino e aprendizagem para a justiça social
A “pesquisa do praticante”
consistiu inteiramente da observação própria de Guttstein sobre sua instrução
matemática freiriana em uma escola pública de Chicago, concluindo, então, que
era um grande sucesso. Parte da evidência foi uma afirmação de um dos seus
alunos: “Eu pensava que a matemática era só uma disciplina que nos ensinavam só
porque queriam, mas agora eu percebo que você poderia usar a matemática para
defender seus direitos e perceber as injustiças ao seu redor”. Guttstein
concluiu que “jovens das aulas K-12 são mais do que meros estudantes” – eles são,
na verdade, atores na batalha pela justiça social.
Não existe evidência que a
pedagogia de Freire tem tido muito sucesso em nenhuma parte do Terceiro Mundo.
Nem os regimes preferidos de Freire, como China e Cuba, reformaram suas
próprias abordagens “bancárias” da educação, nas quais os estudantes mais
brilhantes são controlados, disciplinados, e alimentados com conhecimento de
conteúdo em prol dos objetivos nacionais – e a produção de mais administrações
industriais, engenheiros e cientistas. Quão perverso é, então, que somente as
cidades do interior dos Estados Unidos tenham educadores que são chamados a
“liberar” as crianças pobres de uma imaginária “opressão” e as recrutar para
uma revolução que nunca chegará?
As ideias de Freire são perigosas
não somente para os estudantes, como também para os professores responsáveis
pela sua educação. Um amplo consenso está emergindo entre reformadores
educacionais que a melhor oportunidade de aumentar o desempenho acadêmico das
crianças das escolas do interior é aumentar dramaticamente a efetividade dos
professores selecionados para tais escolas. Melhorar a qualidade dos
professores como uma forma de reduzir a diferença entre o sucesso racial é o
principal foco da agenda educacional do presidente Barack Obama. Mas se a
qualidade dos professores é agora o nome do jogo, desafia-se a racionalidade
que Pedagogy of the Oppressed ainda ocupa em um lugar destacado nos cursos de
treinamento para aqueles professores, que irão certamente aprender nada sobre
como se tornar melhores instrutores de suas desacreditadas platitudes marxista.
Na era de Obama, finalmente,
parece completamente inaceitável encorajar os professores do interior a levar a
sério a agenda política freiriana. Se existe qualquer mensagem política que
aqueles professores devem levar aos seus estudantes, é uma melhor articulada
pelo nosso maior escritor afro-americano, Ralph Ellison, que afirmou que ele
buscava nos seus escritos “ver os Estados Unidos com atenção à sua rica
diversidade e sua magica fluidez e liberdade...confrontando as iniquidades e
brutalidades de nossa sociedade de cabeça erguida, apesar de tudo, projetando
imagens de esperança, fraternidade humana e auto-realização individual”.
***
Tradução de Matheus Pacini.
Revisão de Ronaldo Bassit. In Blog Reaçonaria de Leonardo Lopes
"Quando
se politiza o discurso sobre o processo ensino-aprendizagem acontece o
engessamento, próprio da políticas públicas!!!! ( Grace Teles )
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